Todas as religiões têm uma representação imaginária para o lado negativo da vida que, simbolizando o mundo das trevas, é identificado como o anjo maléfico oponente a Deus e nomeado das mais diversas formas: Satanás, Belzebu e Demónio são apenas nomes para representar o mesmo ser perverso que no final se resume ao temido Diabo.
Mesmo hoje, apesar dos grandes avanços tecnológicos e culturais, esta figura mítica continua a estar presente no subconsciente das pessoas. Uma prova disso é o crescente número de padres exorcistas “aprovados” pela Igreja Católica.
Na verdade todas as culturas criaram formas sobrenaturais de justificar tudo o que de mal nos acontece, imaginando um ser maléfico que em oposição à prestação divina, tem a missão de encarnar o mal e de dar azo aos nossos piores tormentos e desenganos. Há quem pense que tudo se baseia nos vários binómios antagónicos que regem a nossa vida, como o feio e o bonito, o certo e o errado, a vida e a morte ou o azar e a sorte. Basicamente será um ser completa e diametralmente oposto a Deus.
Já Zoroastro, um profeta persa do séc. VI A.C. mencionava Arimã, um ser que seria o príncipe das trevas em luta constante com Mazda, o príncipe da luz. Durante o Cativeiro da Babilónia os hebreus assimilaram esses valores religiosos persas e o encontro de culturas originou o termo “satan” que significa acusador ou adversário. O Velho Testamento assume esse mito hebraico não como a criatura hedionda transmitida pelo cristianismo mas como um juiz punidor que testava os fiéis de Javé. Alguns textos religiosos judaicos do séc. II a.C. apresentam o demónio como um ser maléfico que instiga o homem à prática do mal.
Os profetas São João e São Paulo escreveram largos textos no Novo Testamento relatando longas e intensas batalhas entre Deus e o Diabo. Os demónios seriam seres malignos chefiados por um chefe, Lúcifer, tendo ele e 1/3 dos anjos sido expulsos do Céu num desses confrontos. Muitos cristãos acreditavam, no início, que esses seres se identificavam com os leões e gladiadores das arenas romanas.
Mas a partir do séc. IV, onde o Concílio de Toledo personalizou concretamente o Diabo como tendo chifres, pele preto-avermelhada, cauda e um tridente, foram criados novos tipos de lendas e suposições imaginativas. O Concílio de Latrão em 1215 vaticinou que o Diabo e os demónios seriam seres criados por Deus, mas desviados do seu caminho divino. Esta personificação ocasionou a criação no séc. XIV de várias seitas voltadas para o obscurantismo.
A Inquisição teve durante a Idade Moderna um papel supostamente controlador, se bem que nem sempre racional, de eventuais manifestações heréticas justificadas pela possessão de seres demoníacos, acabando geralmente com a purificação através do sacrifício físico.
A evolução mental iniciada no Iluminismo e ajudada pelo progresso verificado no campo da medicina, veio atribuir ao demónio um menor peso em relação à sua interacção no ser humano.
No entanto acreditar no Diabo talvez continue a ser útil para que, cada vez mais, o homem consiga ter melhor consciência dos limites entre o bem e o mal.
Curiosidades:
– a representação do Diabo não é exclusiva da religião católica. Os budistas, islamitas e até os antigos egípcios são exemplos onde também existe a personificação desse “ser” demoníaco.
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