É quase impensável sairmos hoje de casa sem tomar pelo menos um revigorante duche, que consegue rapidamente revitalizar todo o nosso organismo após uma noite de inércia. E apesar de os inúmeros hábitos higiénicos a que nos fomos acostumando serem considerados relativamente recentes, a verdade é que o banho é uma cultura bem antiga através do tempo.
Teremos que recuar ao tempo do antigo Egipto onde documentos com mais de 3000 anos atestam o costume de tomar banho e numa média de 3 diários, como um ritual sagrado no sentido de purificar o espírito através do corpo. Essa prática ajudou, segundo estudiosos, a afastar a civilização egípcia de pragas e de algumas doenças comuns na época.
Para os gregos, por influência da civilização cretense, os banhos intercalavam a realização de banquetes e festins. A ligação à água era mesmo uma parte da filosofia educacional grega em relação à sua juventude considerando-se ser tão importante saber ler como saber nadar.
A influência grega foi visível na civilização romana que aprimorou a ideia com a criação das conhecidas termas, constituídas por edifícios divididos em piscinas, saunas e vestiários. Tornaram-se as pioneiras das actuais estações de lazer, mais conhecidas como SPA’s, possuindo já nesse tempo restaurantes, jardins e bibliotecas.
A chegada da mentalidade da Idade Média alterou completamente esse comportamento despudorado praticado pelos romanos em locais públicos. Naturalmente que a Igreja teve enorme peso nessa alteração de costumes, tendo o papa Gregório I sido um dos mais acérrimos críticos do banho, associando o contacto com o corpo como uma prática pecaminosa. Com esta mudança de mentalidades, mais imposta que adoptada, o banho passou a ser um acto muito espaçado, sendo a higiene diária assegurada somente pelo recurso a panos húmidos.
Devido à influência nula da Igreja e em contraste com o Ocidente, as civilizações orientais mantiveram as práticas higiénicas identificadas por amplas casas de banho de origem turco-árabe onde os muçulmanos exerciam todo um ritual de cuidado corporal desde o banho, passando por massagens até à maquilhagem.
Entre os séculos XI e XIII as Cruzadas vieram ajudar a que os valores higiénicos voltassem a ter um certo peso na parte final da era medieval, voltando a ser um hábito mais regular e popular.
Mas os séculos XVI e XVII trouxeram outro retrocesso quanto ao hábito dos banhos regulares. Curiosamente foi a classe médica que muito contribuiu para isso acreditando que o excesso de banhos ajudava a alargar os poros da pele, tornando-os uma via facilitada de entrada para diversas doenças nefastas e fragilizando os indivíduos. Demorou mais de um século para que o banho viesse a ser acreditado como um suporte de saúde mas mesmo assim com bastante resistência inicial. Nos anos 30 era usual tomar banho só aos sábados, com a respectiva troca da roupa íntima.
Foi apenas com a reconstrução dos países derivada da destruição ocorrida na 2ª Guerra Mundial que se conseguiu propiciar a facilidade de se aquecer água e a criação de chuveiros nas casas por toda a Europa.
Finalmente o banho voltava a ser um hábito higiénico comum e regular assegurando o nosso bem-estar físico e psicológico.
Curiosidades:
– os gregos e romanos usavam uma espécie de espátula com cerca de 30 centímetros para esfregarem a pele que estava untada com um óleo verde. No caso de serem de classe social elevada essa limpeza era feita por escravos.
– quando a família real portuguesa chegou ao Brasil em 1808, fez do município do Rio de Janeiro o primeiro a ter água canalizada.
– perto do final do século 19 começaram a popularizar-se as banheiras portáteis, inicialmente entre a população inglesa. Quando um nobre decidia tomar banho, as suas empregadas transportavam a banheira para o seu quarto e enchiam-na com água aquecida.
Uma visão bastante europeia da origem o banho. Porque não falar dos índios que sempre tiveram este hábito?….